"... o que é inaceitável é um governo, qualquer governo, interferir em uma empresa privada impedindo que ela expresse sua opinião sobre a situação econômica do país. Sobretudo uma instituição financeira, que tem a obrigação de orientar clientes para que invistam seu dinheiro da maneira mais rentável ou segura possível." - Merval Pereira
Dilma disse que comunicado do Santander é inadmissível
para qualquer país.
Público e privado - Técnicos do governo são escalados para auxiliar presidente em debate - Servidores foram orientados a estudar temas de encontro e candidatos (Geralda Docar e Cristinane Bonfanti)
Antigamente, mas não muito antigamente assim, bastava inserir num 'busca' virtual qualquer título escrito em algum jornal ou revista para termos o endereço que colocaríamos para que todos o lessem, pois ele apareceria como se fosse um passo de mágica. Hoje, não se sabe se tal prática foi censurada devido ao uso e abuso de textos alheios , embora o nome do escritor aparece no conjunto, mas a maioria foi substituída por um aviso que informa "Sua pesquisa - Técnicos do governo são escalados para auxiliar presidente em debate -Servidores foram ... - não encontrou nenhum documento correspondente."
SE NÃO QUER QUE TODOS SAIBAM DE ALGUMA COISA, NÃO A DIVULGUE
Desculpas por nada - DORA KRAMER
O ESTADÃO - 29/07/2014
O ESTADÃO - 29/07/2014
Francamente, não deu para entender a razão da polêmica em torno da análise do Banco Santander, enviada a um grupo seleto de clientes, apontando risco de piora da situação econômica caso a presidente Dilma Rousseff venha a ser reeleita.
O incompreensível nesse episódio não foi a reação do PT. Ofendido, o partido falou em entrar na Justiça (contra o quê?) e aludiu logo ao já batido “terrorismo eleitoral”. Isso sempre acontece: qualquer coisa diferente de elogios é vista sob o prisma da ilegalidade e da conspiração.
Esquisito mesmo foi o banco considerar que devia “esclarecimentos” e desculpas às autoridades em geral, à presidente Dilma em particular, por uma análise de conjuntura que nem novidade é. Faz constatações que estão todos os dias nos jornais e estão no radar de praticamente todos os agentes políticos e econômicos.
Se essas previsões são acertadas ou não, são outros quinhentos. Fato é que o desenho de cenários é algo absolutamente normal. O traçado sempre será mais favorável ou desfavorável a alguém.
Se formos ver as coisas por essa ótica, ficam em princípio interditadas quaisquer formas de manifestações porque todas significariam pernicioso engajamento, interferência na decisão do voto. O presidente do Santander houve por bem se manifestar isentando a instituição pela elaboração do informe, acrescentando que os responsáveis serão todos demitidos. Acrescentou que considera o Brasil um “país importantíssimo”.
E o que um cenário de risco com base em dados sobre a condução que esse ou aquele governo dá à política econômica tem a ver com a percepção sobre as potencialidades do país e a capacidade de outras forças que não aquelas momentaneamente no poder têm de geri-lo?
Os analistas do banco traçaram um cenário – trabalho para o qual se imagina que devam ter sido contratados – e serão demitidos por isso. Por quê? Porque o governo não gostou.
E se a situação fosse oposta: se o informe dissesse aos clientes que o risco de deterioração na economia estivesse justamente na possibilidade de vitória de algum dos candidatos da oposição?
Dificilmente essa ou qualquer outra instituição ver‑se-ia obrigada a pedir desculpas aos oposicionistas que, porventura, se sentissem prejudicados. O gesto de retratação decorre da força de intimidação do governo.
Isso, sim, é uma vantagem e não o contrário, como quis fazer crer o presidente do PT, Rui Falcão. Para ele o que houve é proibido. “Não se pode fazer manifestação em uma empresa que por qualquer razão interfira na decisão do voto”, disse. Por essa lógica as consultorias não poderiam se manifestar, as pesquisas de opinião não deveriam ser publicadas, muito menos interpretadas pelos especialistas, veículos de comunicação estariam proibidos de explicitar suas posições e o governo estaria impedido de usar suas prerrogativas para se dedicar em tempo integral a procurar interferir na decisão do voto.
O incompreensível nesse episódio não foi a reação do PT. Ofendido, o partido falou em entrar na Justiça (contra o quê?) e aludiu logo ao já batido “terrorismo eleitoral”. Isso sempre acontece: qualquer coisa diferente de elogios é vista sob o prisma da ilegalidade e da conspiração.
Esquisito mesmo foi o banco considerar que devia “esclarecimentos” e desculpas às autoridades em geral, à presidente Dilma em particular, por uma análise de conjuntura que nem novidade é. Faz constatações que estão todos os dias nos jornais e estão no radar de praticamente todos os agentes políticos e econômicos.
Se essas previsões são acertadas ou não, são outros quinhentos. Fato é que o desenho de cenários é algo absolutamente normal. O traçado sempre será mais favorável ou desfavorável a alguém.
Se formos ver as coisas por essa ótica, ficam em princípio interditadas quaisquer formas de manifestações porque todas significariam pernicioso engajamento, interferência na decisão do voto. O presidente do Santander houve por bem se manifestar isentando a instituição pela elaboração do informe, acrescentando que os responsáveis serão todos demitidos. Acrescentou que considera o Brasil um “país importantíssimo”.
E o que um cenário de risco com base em dados sobre a condução que esse ou aquele governo dá à política econômica tem a ver com a percepção sobre as potencialidades do país e a capacidade de outras forças que não aquelas momentaneamente no poder têm de geri-lo?
Os analistas do banco traçaram um cenário – trabalho para o qual se imagina que devam ter sido contratados – e serão demitidos por isso. Por quê? Porque o governo não gostou.
E se a situação fosse oposta: se o informe dissesse aos clientes que o risco de deterioração na economia estivesse justamente na possibilidade de vitória de algum dos candidatos da oposição?
Dificilmente essa ou qualquer outra instituição ver‑se-ia obrigada a pedir desculpas aos oposicionistas que, porventura, se sentissem prejudicados. O gesto de retratação decorre da força de intimidação do governo.
Isso, sim, é uma vantagem e não o contrário, como quis fazer crer o presidente do PT, Rui Falcão. Para ele o que houve é proibido. “Não se pode fazer manifestação em uma empresa que por qualquer razão interfira na decisão do voto”, disse. Por essa lógica as consultorias não poderiam se manifestar, as pesquisas de opinião não deveriam ser publicadas, muito menos interpretadas pelos especialistas, veículos de comunicação estariam proibidos de explicitar suas posições e o governo estaria impedido de usar suas prerrogativas para se dedicar em tempo integral a procurar interferir na decisão do voto.
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