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AS ESQUERDAS E O MEDO
“A tentação totalitária será talvez mais poderosa
que a aspiração ao socialismo, o ódio ao capitalismo
suficientemente violento para fazer aceitar a destruição
da liberdade, a paixão nacionalista suficientemente
fanática para perpetuar sobre a Terra
uma eterna guerra civil.”
Jean-François Revel, 1976
Waldo Luís Viana*
As esquerdas pararam no tempo e dividem a política entre direita e esquerda, revivendo nostalgicamente o mundo perdido da Revolução Francesa. Mesmo em nossa pós-modernidade acelerada, com tecnologias alucinantes e transformações diárias no campo da física das partículas, vemos os defensores dessa tendência ideológica tentando dividir o mundo em dois, entre mocinhos e bandidos, deus e o diabo e outras facilidades capazes de iluminar o entendimento dos idiotas e de todos aqueles que não querem ser perturbados pelo benefício da dúvida. Então, esquerda é o lado bom e direita é tudo o que não presta. Ainda bem que sou canhoto (ou sinistro), embora saiba, no fundo, que o Universo não contém lados...
As esquerdas, que segundo alguns não conseguem se unir nem na cadeia, vaticinam que a direita é um conjunto de interesses ligado aos ricos e muito ricos que querem difundir o medo entre a classe média e os pobres para assumir o poder político e estragar todos os avanços produzidos pelo atual governo.
Na medida em que as eleições no Brasil se aproximam, imaginam um mundo dual, em que a candidata escolhida pelo presidente (poderia ser também outro qualquer) representa o lado “bom”, enquanto o candidato de oposição, o lado “mau”, esconde atrás de si tudo o que não serve e que arrasará as grandes conquistas das classes trabalhadoras, vale dizer, o fome-zero, o primeiro emprego, a assistência odontológica gratuita, os médicos de família, o ProUni, os estatutos do Idoso e de Igualdade Racial, a Cartilha do Politicamente Correto, a transposição das águas do São Francisco, os programas de aceleração do crescimento e o famoso bolsa-família.
Argumentam que o nosso presidente perdeu diversas eleições porque o medo sempre superava a esperança e, em 2002, a população resolvera o contrário, que a esperança superasse o medo “espalhado” pela direita. O presidente venceu e repetiu a dose em 2006, montando o atual paraíso em que vivemos e que precisa, segundo eles, perdurar.
A máquina montada pelo governo deseja continuar de pé, um sistema de pelegos, gestores de ONGs e fundos de pensão, bem como manipuladores de movimentos sociais e estudantis, que gastam uma montanha de dinheiro chupada dos contribuintes, numa derrama muito pior do que a infligida aos brasileiros nos tempos de Tiradentes.
Essa rede quer perenidade, ser indestrutível e precisa da legitimidade eleitoral de uma população deseducada em sua maioria e que obrigatoriamente comparece às seções eleitorais para votar em urnas eletrônicas, sem recibo e qualquer controle efetivo dos partidos políticos. Nosso sistema de votação é tão bom que foi repudiado pela maioria das nações desenvolvidas, que não aceitam as inovações brasileiras no setor.
Para atingir, porém, bons resultados na campanha, as esquerdas pretendem utilizar exatamente o que condenavam outrora na direita. Sentindo-se acuadas, pela fraqueza da candidata escolhida, que jamais disputou um pleito e começa a soltar gafes por todo o país, sem deter absolutamente o charme e carisma do chefe, o governo prepara um projeto eleitoral baseado exatamente no medo.
Espalhará e repetirá pelo país várias mentiras de laboratório: que o outro lado abusará das privatizações, incluindo aí a Petrobrás, o BNDES, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil; que a direita vai extinguir o bolsa-família e todas as demais políticas compensatórias e sociais acima referidas, assim como perseguirá os trabalhadores e as minorias retirando-lhes benefícios tão duramente conquistados.
Esses argumentos, infelizmente, têm com pano de fundo real (e não simplesmente declaratório) o aparelhamento do Estado pelos agentes da pelegada sindical, dos fundos de pensão, movimentos sociais e do chamado Terceiro Setor – todos associados à monumental corrupção do socialismo de mercado, com seus métodos sobejamente conhecidos de mensalões, dólares nas cuecas, dossiês e licitações fraudulentos e favorecimento e nepotismo dos “cumpanhêrus”.
Quem sabe ainda veremos, no horário eleitoral gratuito, as apelações de sempre, com retratos de Getúlio Vargas e do atual presidente caindo da parede no chão, caso o candidato da oposição venha a ficar em posição de destaque próximo ao pleito, como se todas as conquistas do povo brasileiro pudessem ser automaticamente derrubadas por ele, caso ganhe o embate eleitoral.
Isso é instilar puro medo, um dos gigantes da alma, na veia do brasileiro, influindo decisivamente no destino das eleições da maneira mais desabrida e hipócrita. Assim, as esquerdas estão fazendo, como emprestaram, sem qualquer pudor, as ideias nazistas de Goebbels, que martelava mentiras sobre o povo alemão até que se transformassem em verdades.
Aliás, os totalitarismos de esquerda e direita no fim sempre se tocam, porque se utilizam dos mesmos métodos espúrios. Ambos os lados não acreditam em Deus e suas filosofias políticas são baseadas no ateísmo, na moral e no direito dos vitoriosos; também valorizam o homem social em detrimento do valor e dos direitos do indivíduo; pensam, ainda, como rebanho, seguindo o que determinam as assembleias de ovelhas domesticadas e manipuláveis, mas, paradoxalmente, para atingir seus objetivos, sempre necessitam de um líder voluntarioso, que “lhes mostre o caminho”.
Assim, o culto a uma personalidade faz recair sobre um indivíduo toda a responsabilidade pela redenção do homem social – eis a suprema contradição totalitária, o que gerou, na prática, a ascensão de Hitler, Mussolini, Fidel Castro, Pol Pot, Mao Tse-Tung, Lênin e Stalin. Para que esses senhores prosperassem, a liberdade teve que ser destruída em nome da delação, da polícia secreta, da tortura massiva de adversários do regime, dos gulags, das deportações e campos de concentração. Somente os povos que sofreram tais opressões sabem o preço a pagar pela recuperação de sua liberdade...
O povo brasileiro fica, por causa desse contexto, como se estivesse com a faca no pescoço e o eleitor vai à cabine eleitoral como se fosse a um matadouro: tem medo de desconsiderar seus irmãos na hora de votar, porque o que o governo lhes mostra é simplesmente uma opção pobre e plebiscitária. Se votar nas esquerdas, viverá a prosperidade atual, com ótimas escolas, estradas e ferrovias; ótimos, hospitais e portos, bem como segurança nas cidades, além de médicos, professores e policiais satisfeitíssimos com seus salários. Continuaremos a viver nesse país de justiça rápida para os pobres, negros e prostitutas e lento e caridoso com os ricos, afortunados e amigos do poder, além de políticos sempre preocupados com o bem do povo e não com os próprios bens.
Se, ao contrário, o brasileiro votar contra o governo, aí embarcará numa noite escura de medo e desolação. Esse é o puro medo que o governo quer...
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* Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta e tem tanta coragem quanto mulher de militar...
Teresópolis, 21 de abril de 2010.
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