Morte de policiais sem que a imprensa considerasse um fato tão grave quanto foi a morte de um cinegrafista-jornalista e dedicasse ao caso tantas páginas de jornal.
Afinal, policiais estão aí para isso mesmo, não é?
A função de um policial é morrer?
Obs.: embora muitos não aceitem, a morte faz parte da nossa vida e é a única certeza que temos, ao nascer, do que nos acontecerá futuramente, Uns morrem de 'morte morrida', outros, mais precocemente, por estarem passando na hora errada pelo local errado, e por diversas outras causas. Mas a morte sempre se aproxima. Gostem ou não gostem da ideia. Sejam cinegrafistas ou policiais.
O DEVER DE UM JORNAL — II
EDITORIAL - Publicado no dia
O GLOBO tem um profundo respeito por seus leitores e, ao longo de sua história, jamais se permitiu agir de outra forma. Não será diferente desta vez. SE O JORNAL CITADO TIVESSE RESPEITO POR SEUS LEITORES NÃO DEIXARIA DE COMENTAR CASOS GRAVES COMO OS ASSUNTOS CITADOS NO LIVRO DE TOMEU TUMA JR. . MESMO QUE O JORNAL NÃO ACUSASSE NINGUÉM E O FIZESSE APENAS PARA AJUDAR NA ELUCIDAÇÃO DE UM FATO. A NÃO SER QUE ENTREGAR SEUS COLEGAS A UM ÓRGÃO DA DITARURA MILITAR, COMO FAZIA NOSSO EX-PRESIDENTE, E A CRIAÇÃO DE DOSSIÊS FALSOS OU SEMI-FALSOS NÃO SEJAM FATOS CONSIDERADOS GRAVES .
Ontem, o deputado Marcelo Freixo (acusado de financiar os ataques dos black blocs) publicou artigo nessas páginas. Exercitava o seu direito de discordar da cobertura que o jornal fizera da morte do cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes: seu nome foi envolvido no noticiário e o jornal deu destaque a isso. No dia anterior, O GLOBO explicou os seus motivos, e, hoje, os mantém plenamente. CABE A TODOS OS LEITORES UMA DÚVIDA: PORQUE O JORNAL NÃO CONSIDERA IGUALMENTE GRAVE A MORTE DE UM POLICIAL?
Em seu artigo, porém, Freixo não apenas discordou da cobertura explicando os seus porquês. Preferiu, num momento grave como esse, fazer ironias com o jornal, com afirmações falsas. É em respeito a seus leitores, e somente a eles, que O GLOBO dedica esse espaço a refutá-las.NÃO COMPREENDEMOS DIREITO A QUE GRAVIDADE O JORNAL SE REFERIU. SE CONSIDERA GRAVE O MOMENTO POR QUE PASSAMOS, O FATO DE MUITOS ÔNIBUS SEREM QUEIMADOS PELAS RUAS, O VANDALISMO QUE SE APODEROU DO PAÍS, A CORRUPÇÃO POLÍTICA, INCLUSIVE E PRINCIPALMENTE O MENSALÃO! ´TAMBÉM NÃO ENTENDEMOS DIREITO SE O JORNAL SE REFERIU À MORTE DE APENAS UMA PESSOA OU PRETENDIA SE REFERIR À MORTE DE MUITAS PESSOAS, NAS PORTAS DE HOSPITAIS, POR EXEMPLO.
Freixo iniciou seu artigo fazendo referência ao apoio que O GLOBO, assim como praticamente todos os periódicos da época, deu ao golpe de 1964, fato já ampla e formalmente reconhecido pelo jornal como um erro editorial. Na ocasião, O GLOBO afirmou: “A democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma.”
No mesmo artigo, Freixo estranhou a falta de ímpeto editorial do jornal diante da “comprovada ligação do governador em exercício Sérgio Cabral e o empreiteiro Fernando Cavendish”. O deputado perguntou, ainda, quantos textos foram escritos sobre as relações entre o governador e Eike Batista. Pois bem, o jornal jamais se calou sobre tais temas. O JORNAL JAMAIS SE CALOU SOBRE 'TAIS' TEMAS, MAS ISSO NÃO SIGNIFICA QUE NÃO TENHA SE CALADO SOBRE DIVERSAS OUTRAS COISAS.
Aos fatos: ...
...
O GLOBO não tem interesses partidários. Preocupa-se, na cobertura sobre a morte absurda do cinegrafista, a ajudar a desvendar o caso. Não acusou o deputado de nada. Registrou, com o destaque merecido, o que dele se falou, abertamente e sem reservas. Era uma obrigação. O GLOBO NÃO TEM E NUNCA TERÁ INTERESSES POLÍTICOS, ATÉ PORQUE TEM DEMONSTRADO INCANSÁVELMENTE QUE 'DANÇA CONFORME A MÚSICA', OU SEJA, SEU INTERESSSE É POR QUEM MANDA OU DESMANDA NO MOMENTO, SEJA DE QUAL PARTIDO FOR.
É preciso que se diga, porém, que O GLOBO nada tem contra Marcelo Freixo. Registre-se que o deputado teve apoio do jornal na CPI das Milícias, essa praga que, juntamente com o tráfico de drogas, ainda infernizam o Rio de Janeiro. E terá novamente sempre que agir em benefício do país, de nossa sociedade, de nossa democracia. Assim exigem nossos princípios, por sinal publicados e à disposição de todos. SE O JORNAL AGISSE EM BENEFÍCIO DO PAÍS, NÃO SE ENCOLHERIA AO OCULTAR NOTÍCIAS IMPORTANTES PARA O CÉREBRO DOS BRASILEIROS .
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