O direito de saber
CARLOS ALBERTO DI FRANCO
Imprensa existe para fazer contraponto
Imprensa existe para fazer contraponto
Dilma Rousseff não dá um passo sem ouvir seu marqueteiro. João Santana é, de fato, seu primeiro-ministro. Competente na arte de embalar produtos, Santana vende bem a imagem de sua cliente. Compromisso social, capacidade de gestão e firmeza são, entre outros, os supostos atributos da presidente.
Os fatos, no entanto, acabam prevalecendo. É só uma questão de tempo. E os fatos estão gritando na força dos números econômicos, na qualidade objetiva da governança e na adequação entre discurso e vida.
Dilma Rousseff faz questão de frisar seu compromisso de combate à pobreza e sua visão de mundo oposta ao ideário dos representantes das elites que sempre “dominaram este país”. Mas o que revela uma vida não é o discurso, mas a prática concreta. Espera-se da presidente austeridade de vida e distância das benesses do poder. Não é o que se deduz de sua recente escala sigilosa em Lisboa.
Dilma Rousseff e sua comitiva passaram um fim de semana em Portugal, ocupando um total de 45 quartos de dois dos hotéis mais caros de Lisboa. A viagem estava sendo mantida em sigilo e apenas foi explicada depois que a reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” a revelou com exclusividade. A suíte que Dilma utilizou no hotel Ritz está tabelada em 8 mil euros por dia (cerca de R$ 26 mil). Entre Davos e Cuba, Dilma e sua delegação decidiram passar o sábado em Lisboa, sem informar ao público onde a presidente estava.
Na noite do sábado, ao contrário do que o Palácio do Planalto havia informado, Dilma saiu para jantar no elegante restaurante Eleven. O Planalto chegou a dizer ao “Estado” que ela estava “dormindo”. Mas uma foto publicada no jornal português “Expresso” deixou a comitiva sem explicações. Na foto, Dilma está entrando no luxuoso restaurante, acompanhada pelo embaixador do Brasil em Portugal, Mario Vilalva. O restaurante é um dos melhores de Portugal e um dos poucos no País classificados com a estrela Michelin.
Oficialmente, a explicação para a parada em Portugal é a de que o avião presidencial não teria autonomia para viajar entre Zurique e Havana. Mas o Planalto não explica nem por que a visita foi mantida em sigilo e nem por que o abastecimento do jato não poderia ter ocorrido com a comitiva dentro do avião, algo que levaria cerca de uma hora, comenta o jornalista Jamil Chade.
O episódio, revelador, provocou muita irritação. Ótimo. É assim que deve ser. A imprensa existe para fazer o contraponto, para revelar as incoerências, para exercer um papel fiscalizador. E não se invoquem razões de segurança ou respeito à privacidade para justificar o absurdo sigilo. Dilma pode falar o que quiser, mas, depois do episódio, terá dificuldade para criticar os desvios da elite.
Não pode existir uma separação esquizofrênica entre vida privada e vida pública. Há atitudes na vida privada que prenunciam comportamentos na vida pública. E há atitudes na vida concreta que revelam inequívoca mistura entre o público e privado.
A agenda da presidente da República deve ser de conhecimento público. E a imprensa, corretamente, precisa contornar injustificadas tentativas de sigilo. O segredo não é bom para a sociedade.
Os fatos, no entanto, acabam prevalecendo. É só uma questão de tempo. E os fatos estão gritando na força dos números econômicos, na qualidade objetiva da governança e na adequação entre discurso e vida.
Dilma Rousseff faz questão de frisar seu compromisso de combate à pobreza e sua visão de mundo oposta ao ideário dos representantes das elites que sempre “dominaram este país”. Mas o que revela uma vida não é o discurso, mas a prática concreta. Espera-se da presidente austeridade de vida e distância das benesses do poder. Não é o que se deduz de sua recente escala sigilosa em Lisboa.
Dilma Rousseff e sua comitiva passaram um fim de semana em Portugal, ocupando um total de 45 quartos de dois dos hotéis mais caros de Lisboa. A viagem estava sendo mantida em sigilo e apenas foi explicada depois que a reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” a revelou com exclusividade. A suíte que Dilma utilizou no hotel Ritz está tabelada em 8 mil euros por dia (cerca de R$ 26 mil). Entre Davos e Cuba, Dilma e sua delegação decidiram passar o sábado em Lisboa, sem informar ao público onde a presidente estava.
Na noite do sábado, ao contrário do que o Palácio do Planalto havia informado, Dilma saiu para jantar no elegante restaurante Eleven. O Planalto chegou a dizer ao “Estado” que ela estava “dormindo”. Mas uma foto publicada no jornal português “Expresso” deixou a comitiva sem explicações. Na foto, Dilma está entrando no luxuoso restaurante, acompanhada pelo embaixador do Brasil em Portugal, Mario Vilalva. O restaurante é um dos melhores de Portugal e um dos poucos no País classificados com a estrela Michelin.
Oficialmente, a explicação para a parada em Portugal é a de que o avião presidencial não teria autonomia para viajar entre Zurique e Havana. Mas o Planalto não explica nem por que a visita foi mantida em sigilo e nem por que o abastecimento do jato não poderia ter ocorrido com a comitiva dentro do avião, algo que levaria cerca de uma hora, comenta o jornalista Jamil Chade.
O episódio, revelador, provocou muita irritação. Ótimo. É assim que deve ser. A imprensa existe para fazer o contraponto, para revelar as incoerências, para exercer um papel fiscalizador. E não se invoquem razões de segurança ou respeito à privacidade para justificar o absurdo sigilo. Dilma pode falar o que quiser, mas, depois do episódio, terá dificuldade para criticar os desvios da elite.
Não pode existir uma separação esquizofrênica entre vida privada e vida pública. Há atitudes na vida privada que prenunciam comportamentos na vida pública. E há atitudes na vida concreta que revelam inequívoca mistura entre o público e privado.
A agenda da presidente da República deve ser de conhecimento público. E a imprensa, corretamente, precisa contornar injustificadas tentativas de sigilo. O segredo não é bom para a sociedade.
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