Viva Barbosa! - artigo de Luiz Garcia
É certo que Dirceu não sequestrou criancinhas nem matou para
roubar. Mas seu comportamento como homem público é triste exemplo de abuso no
mais alto escalão.
Um observador leigo — e, por isso mesmo, inevitavelmente
ingênuo — pode acreditar que existem dois Supremos Tribunais Federais em
Brasília: um, com a presença do ministro Joaquim Barbosa na presidência da
Casa, e outro quando ele está ausente.
Seria exemplo disso um episódio recente: nas férias de
Barbosa, o vice-presidente do STF, Ricardo Lewandowski, decidiu que a Vara de
Execuções Penais deveria examinar com urgência um pedido do condenado José
Dirceu para trabalhar fora do presídio. Em princípio, não há nada de irregular
nisso. É um benefício ao alcance de todos os presidiários de bom comportamento.
Mas, obviamente, concedê-lo não deve depender unicamente disso.
Um observador totalmente leigo — como é o caso aqui — pode
imaginar que essa colher de chá também depende de outros fatores. Por exemplo,
a gravidade do delito que levou Dirceu para a cadeia. É certo que ele não
sequestrou criancinhas nem matou para roubar. Pode-se ter como certo que sua
presença nas ruas não assustaria crianças e velhinhos. Por outro lado, seu
comportamento como homem público é um triste exemplo de abuso no mais alto
escalão do Poder Executivo.
Em tese, a decisão de Lewandowski nada tem de irregular. Mas
o processo que levou à condenação dos envolvidos no escândalo do mensalão teve
certamente um efeito salutar no clima político de Brasília. Sua condenação, e
do resto da quadrilha, foi, com certeza, uma prova saudável e sempre
indispensável de que a democracia brasileira não fecha os olhos ao eventual
comportamento criminoso de homens públicos. Como muita gente sempre pensou,
para tristeza dos honestos e alegria dos que mamam, ou gostariam de mamar, nas
ricas tetas do Estado.
O ministro Barbosa, que foi o relator do processo do
mensalão, voltou das férias a tempo de revogar a decisão infeliz — para usarmos
um adjetivo generoso, sem qualquer malícia — de Lewandowski. Principalmente,
porque o presidiário Dirceu é acusado de mau comportamento como presidiário,
por usar um celular na sua cela, o que é proibido (*).
O caso ainda não terminou: os advogados do presidiário
Dirceu pretendem que o plenário do STF revogue a decisão do seu presidente. Não
é impossível que isso aconteça. Mas seria um triste exemplo de que há dois
tipos de internos nas celas do presídio de Brasília: cidadãos comuns e outros,
que ainda se agarram aos privilégios que, pelo menos supostamente, perderam por
mau comportamento nos corredores do poder.
(*) Não se admite o uso de telefone celular nos presídios, mesmo que eles sejam bem aproveitados para o comando de facções criminosas (venda de drogas, por exemplo), mas aqui se permitem furtos e roubos. Isso é que é um país vermelho! Red blocks em quem merece. Se for white, então, que se dane. Quem mandou que fosse branco, que nunca invadisse terras abandonadas ou fosse honesto? EM TERRA DE BANDIDOS, SÓ SERÁ ''REI'' QUEM FOR LADRÃO.
(*) Não se admite o uso de telefone celular nos presídios, mesmo que eles sejam bem aproveitados para o comando de facções criminosas (venda de drogas, por exemplo), mas aqui se permitem furtos e roubos. Isso é que é um país vermelho! Red blocks em quem merece. Se for white, então, que se dane. Quem mandou que fosse branco, que nunca invadisse terras abandonadas ou fosse honesto? EM TERRA DE BANDIDOS, SÓ SERÁ ''REI'' QUEM FOR LADRÃO.
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