Como dizia aquele alemão barbudo
(como o ex-ministro do STF Eros Grau se referiu a Marx certa vez), a história
se repete como farsa. Caminhamos para uma eleição presidencial tão radicalizada
quanto a de 1989, a primeira direta após o regime militar, que terminou em
tragédia com o impeachment de Collor. Só
que com tons e nuances diferentes.
A esquerda tinha dois
representantes naquela ocasião, o líder metalúrgico L--- e o líder trabalhista
Brizola, que disputaram voto a voto a ida para o segundo turno contra o
representante da centro-direita, Collor de Mello. Populismo de direita contra
populismo de esquerda.
L--- derrotou Brizola por 0,67% e
foi para o segundo turno contra Collor, e mais tarde admitiu que, naquele
momento, não estava preparado para ser presidente da República. Foi em
Divinópolis, na campanha de 2010 para eleger Dilma que ele disse que agradecia
por ter perdido a eleição presidencial de 1989 porque era “muito mais radical”
e poderia cometer erros no governo.
“Hoje eu agradeço a Deus por não
ter ganhado em 1989, porque eu era muito novo, muito mais radical do que eu era
em 2002 e, portanto, eu poderia ter feito bobagem. Não bobagem porque eu
quisesse fazer, mas pela impetuosidade, pela pressa de fazer as coisas”.
Hoje, tão radical quanto era em
1989, longe daquele L--- que escreveu a carta aos brasileiros em 2002 para
dirimir as dúvidas do mercado financeiro e da classe média sobre seu
radicalismo, considera-se preparado (?) para voltar à presidência que exerceu entre
2002 e 2010, e a lembrança daquele tempo está viva na memória de cerca de 35%
dos eleitores, segundo a mais recente pesquisa do Ibope (a lembrança fica aina mais viva quando se 'olha' a mesa vazia e o estomago também).
Mas a memória dos supostos bons
tempos é traiçoeira, pois foi ao abandonar o equilíbrio fiscal dos primeiros
anos, e as reformas estruturais como a da Previdência que iniciou assim que
eleito, mas abandonou para não entrar em choque com as corporações que o
apoiavam, que L--- deu início a essa crise econômica que se exacerbou a partir
de 2010 com um crescimento artificial de 7,5% do PIB para eleger sua sucessora.
Dilma aprofundou o que chamaram
de nova matriz econômica que nos levou à maior recessão de nossa história, e ao
tentar remendar o estrago que havia feito reequilibrando os gastos públicos,
traiu seu eleitorado, na opinião de L---.
Temos então em 2018 um L--- que, se não for
impedido de disputar pela Justiça, pretende adotar a política radical que em
1989 o fazia despreparado para a presidência, Ciro Gomes na versão pedetista na
disputa pela esquerda, e Jair Bolsonaro, um populista de direita, muito menos
preparado do que aquele Collor de Mello que surgiu em 1989.
Pela radicalização que domina o
cenário, é previsível que figuras da política tradicional como o governador
Geraldo Alckmin, com seu espírito moderado, tenha tanta chance quanto tiveram
em 1989 figuras como Ulysses Guimarães, Aureliano Chaves, Mario Covas, que
foram abandonados pelo eleitorado.
Com uma diferença crucial hoje:
em 1989, os políticos tradicionais, muitos retornados do exílio, tinham um peso
considerável, embora os dois que foram para o segundo turno, Collor e L---,
fossem figuras relativamente novas no cenário nacional.
Hoje, soma-se à radicalização o
desgaste da classe política. Quem consegue se diferenciar nesse ambiente
corrompido, como Marina Silva e Bolsonaro, que em espectros políticos opostos
não estão envolvidos em denúncias, tem chances.
Até mesmo um presidente impopular
como Sarney em 1989 temos em Temer hoje, que sem dúvida será alvo dos maiores
ataques, como naquela ocasião Sarney serviu de saco de pancadas para Collor e
L--. E para dar um toque especial à repetição, surge por fora a candidatura de
Luciano Huck, assim como em 1989 Silvio Santos surgiu do nada para atropelar os
favoritos.
Embora fosse muitas vezes mais
popular do que hoje é Luciano Huck, este, além de popular o suficiente, tem
muito mais preparo e uma rede de contatos que pode viabilizar um programa de
governo com substância. Não se sabe o que
aconteceria se a justiça eleitoral não tivesse impedido o registro da
candidatura de Silvio Santos. Saberemos mais adiante se Huck será mesmo
candidato, e que candidato será.
OU SEJA, BRASILEIRO NÃO TEM ESCOLHA DECENTE
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