Escrevo este artigo em defesa de meus interesses próprios. Não, não me entenda mal. Não tenho fortuna grande, nem média, nem pequena. Minha fortuna é minha família, são meus amigos, meus leitores, minha fé e meus valores imateriais. Mas considero que defendo interesses próprios, como cidadão brasileiro, quando reprovo a taxação das grandes fortunas, como qualquer aumento de impostos, porque essa é uma ideia de jerico. Dela sequer se pode dizer que vem embalada nos ideais do igualitarismo. Não no nosso caso. Não na concepção mau caráter que lhe deu origem.
O ideal do
igualitarismo, é bom esclarecer, já produziu desastres em proporções
suficientes para que se saiba o que acontece quando deixa de ser ideal e vira
prática. No caso brasileiro, porém, a taxação das grandes fortunas não
representaria isso. Tampouco significaria um pouco mais do mesmo, ou seja,
ampliação da política atual, que confunde donativo com renda e que, por isso,
não consegue gerar progresso social. O governo brasileiro não resolve o
problema da Educação dos segmentos de baixa renda, não lhes proporciona
adequado saneamento básico nem atenção à saúde e não cria condições para que
esses recursos humanos se habilitem às atividades produtivas. Todos se tornam,
cada vez mais, dependentes do Estado, o que é a segunda pior situação possível.
A taxação das grandes fortunas,
no Brasil, seria um caso inédito. Foi pensada agora, num momento de crise
fiscal pela qual não precisaríamos estar passando não houvesse a ganância pelo
poder, gerado imperdoável prodigalidade do governo no uso do dinheiro que
abusivamente nos toma. Em linguagem simples, sem pedaladas retóricas, a taxação
dos mais ricos viria para salvar o Estado da escassez de recursos a que ele
mesmo se conduziu.
Algo assim só pode parecer
razoável a dois tipos de pessoas: os amigos leais do Estado perdulário e os
fanáticos do igualitarismo.
Há um erro imenso em atribuir a
pobreza dos pobres à riqueza dos ricos, ou vice-versa. Essa é uma ideia
desorientadora, que prejudica aqueles a quem pretende ajudar. Os pobres não são
pobres por causa dos ricos. Eles são pobres por causa do Estado, são pobres
porque não há concentração maior de renda do que a promovida pelo Estado quando
fica com quase 40% de tudo que se produz no país! E, apesar dessa monstruosa
expropriação, não só rouba e se deixa oubar, mas se omite em relação às
políticas e ações que poderiam promover desenvolvimento social nas populações
de baixa renda. O Estado não deveria “cuidar das pessoas”, mas deveria, isto
sim, proporcionar condições para as pessoas cuidarem bem de si mesmas.
______________
* Percival Puggina (70), membro
da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e
titular do site www.puggina.org, colunista
de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra
o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do
grupo Pensar.
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