Escritores brasileiros
Raphael Montes
Abro o Segundo Caderno d’O GLOBO do último sábado e, no meio das matérias, encontro um anúncio de editora: “Conheça os dez autores brasileiros mais vendidos do Grupo Editorial Record”. Em curiosa harmonia, ali figuram nomes como Carina Rissi, Graciliano Ramos, Eduardo Spohr, Paula Pimenta e Marcia Tiburi. Quase me caiu uma lágrima de satisfação. Um anúncio como esse confirma a importância que uma editora forte como a Record tem dado ao escritor brasileiro. Sem dúvida, um acerto e tanto.
Anos atrás, salvo exceções como a Companhia das Letras e a própria Record, era raro que o autor nacional merecesse maiores atenções das editoras brasileiras. Preferiam publicar os cases de sucesso trazidos do exterior e deixar o autor nacional abandonado à própria sorte: o livro brasileiro recebia tiragem baixa, nenhum investimento em marketing e, como num inevitável dilema de Tostines (“vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?”), chegava em desvantagem nas livrarias, era ignorado pelos leitores e — tchrã! — não vendia nenhum número expressivo. A crítica literária dos jornais e os eventos pelo país tampouco faziam muito pelo autor nacional: torciam o nariz para literatura de gênero e preferiam ignorar (ou falar mal) quando algum escritor alcançava muito sucesso.
A meu ver, dois fatores foram essenciais para iniciar a revalorização do autor nacional: i) a força dos blogs de literatura e dos booktubers e ii) a grande variedade de escritores dedicados à literatura de gênero. Com o crescimento das redes sociais, pessoas apaixonadas por livros criaram veículos de comunicação diretos com outros leitores, seja através de resenhas em um blog ou canais no YouTube. Com isso, acabaram popularizando a literatura (e aqui uso popularizando no melhor sentido da palavra), abraçando todo tipo de livro, fomentando o público leitor e estabelecendo um diálogo sem a afetação e o rancor tão comuns à crítica literária brasileira. Hoje em dia, esses booktubers e blogueiros literários são verdadeiros formadores de opinião, essenciais na divulgação do livro nacional. Basta entrar numa livraria e ver, por exemplo, a quantidade significativa de pessoas que busca resenhas na internet antes de escolher qual livro levará para casa.
Ao mesmo tempo, nada disso seria possível se não tivéssemos vários autores dedicados à boa literatura de gênero. Infelizmente, no Brasil, imperou por muitos anos (e ainda impera, de modo mais brando) certa noção de que ser comercial — efetivamente vender livros, estar na mídia — é sinônimo de má qualidade. A literatura de entretenimento é necessariamente ruim, manter contato com leitores é visto com maus olhos, bom escritor deve viver recluso: pensamento mesquinho e ultrapassado. Não custa lembrar que Charles Dickens, Henry James e Victor Hugo eram autores populares e “de entretenimento” em sua época. Literatura de gênero não significa literatura ruim — basta ler os policiais de Patricia Highsmith, a fantasia de Tolkien e o terror de Edgar Allan Poe para confirmar. Daí que, mandando aos diabos o preconceito dos acadêmicos, vários autores de literatura de gênero começaram a ganhar força no país, criando uma sadia concorrência e alcançando por vezes a lista de mais vendidos, ao lado dos best-sellers importados.
Sem demora, as editoras passaram a ver a importância de investir em um forte catálogo de literatura nacional: além da economia na tradução, autores brasileiros podem viajar todo o país para divulgar seu trabalho, manter contato direto com os leitores nas redes sociais, dar entrevistas, ter seus direitos autorais vendidos para tradução e adaptação audiovisual. A partir do investimento das editoras e do essencial apoio dos blogueiros literários e booktubers, percebo que o leitor brasileiro está descobrindo o prazer de ler livros nacionais contemporâneos. Aqui, não estou falando dos leitores acadêmicos, especializados, mas sim do leitor que vai à livraria em busca de algo interessante e, antes de qualquer coisa, quer mesmo é encontrar uma boa história. Com surpresa, esse público tem se deparado com obras brasileiras com tramas interessantes (muitas vezes melhor do que algumas estrangeiras que chegam por aqui), sem prejuízo da qualidade literária ou do estilo. Além disso, estas tramas em geral se passam em regiões conhecidas do Brasil, trazendo referências de nossa cultura, nossa música e nossos hábitos.
Sem dúvida, o caminho a ser percorrido pelo escritor brasileiro ainda é longo. Lamentavelmente, muitos ainda têm a errada noção de que a literatura nacional é pior, mais chata, mais fraca; muitos blogueiros ainda preferem resenhar apenas obras estrangeiras e, ainda hoje, eventos literários importantes fazem festa para autores gringos enquanto ignoram alguns brasileiros de carreira sólida no país. Mas, sem dúvida, um anúncio como o do Grupo Editorial Record serve como bom presságio. Basta estar atento e esperar pelo que virá. E você? Tem lido autores nacionais contemporâneos?
http://oglobo.globo.com/cultura/escritores-brasileiros-19540527#ixzz4C78LtcWe
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Filmes brasileiros também nunca tiveram maior 'aprovação' da opinião pública do que os filmes estrangeiros, principalmente os filmes americanos, embora os nossos sejam muito melhores. Grande erro! Os filmes americanos, por exemplo, mesmo antes de serem vistos até o final, de tão repetitivos já sabemos qual será seu fim.
O mesmo não acontece com os filmes brasileiros, que são muito mais criativos. Exemplos estariam em http://www.filmesbrasileiros.net/filmes-brasileiros-a-z/. No site citado estariam filmes nacionais maravilhosos como Deus é Brasileiro , Dona Flor e Seus Dois Maridos , O Homem Que Copiava, e muitos outros. O filme O QUATRILHO (https://www.youtube.com/watch?v=GRARkaIlR_w) não consta da relação no site indicado, mas merece ser visto. O QUATRILHO chegou a concorrer ao Oscar e não ganhou, mas o Oscar é apenas o Oscar. Mais vale a opinião dos brasileiros!
É como sempre repito aos 'viajandantes',
"não adianta viajarmos para ver a belezas de outros países
se nem conhecemos as belezas do nosso."
Palavras de uma blogueira que usa seu espaço só para fazer críticas
pois está sempre mirando o que temos de pior: a política.
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