Ives Gandra Martins
Waldo Luís Viana
Lembro-me bem da disputa familiar ocorrida no inventário do ex-presidente João Goulart. O filho João Vicente foi confrontado por um modesto motorista de táxi que reivindicava direitos sobre o “monte”, pretextando que também era filho de Jango. O juiz constituído para a pendência foi julgar o caso e chamou as partes. Quando o motorista chegou ao tribunal – ele que era fruto de um relacionamento não oficial do ex-presidente – constatou-se a sua semelhança visceral com João Goulart. Era uma cópia esculpida e escarrada de Jango. Ora, pressionado por aquela descoberta, o juiz resolveu incontinenti encerrar o caso, incorporando o modesto motorista ao inventário, dizendo simplesmente: “o que é evidente não deve ser objeto de direito”.
Mais recentemente, recordei-me de conversa rápida com um alto dirigente da Polícia Federal. Perguntei-lhe, de modo informal: “vem cá, por que vocês não prendem o L---?”. Ele sentenciou, com fisionomia grave: “você, meu caro, quer que eu perca o emprego?”
Vieram-me à mente esses dois momentos, no instante em que boa parte da população pede o impeachment da Presidanta. Essa questão ameaça a dirigente como uma espada de Dâmocles. A cada dia, os fatos apurados pelo Ministério Público, a Polícia Federal e o Judiciário tornam sua vida um verdadeiro inferno. Mesmo sendo “uma cidadã acima de qualquer suspeita”, todos os acontecimentos apontam para a sua proximidade com tantos escândalos e malfeitos (aliás, é malfeito porque o corrupto não conseguiu esconder direito o ato ilícito).
A estratégia fundamental é, contudo, preservar os maiorais, os chefes. O falecido e milionário advogado Márcio Thomas Bastos ensinou a estratégia para livrar L--- do impeachment: “diga que não sabia de nada”. Esse mote serviu para garantir ao ex-presidente o segundo mandato, enquanto o PSDB esperava, numa falsa ingenuidade, que L--- sangrasse e caísse do poder.
Do mesmo modo, o slogan que serviu ao molusco é usado com a maior desfaçatez pela Presidanta. Apesar de ter sido presidente do conselho da Petrobras, durante quase todo o período levantado pela operação Lava Jato, ela se isenta de qualquer responsabilidade sobre os acontecimentos que envolveram a compra da refinaria em Pasadena e que gerou graves prejuízos à companhia. Apesar de os estatutos da empresa exigirem a corresponsabilidade dos membros do conselho sobre os prejuízos da companhia, por encanto a Presidanta ficou fora de qualquer suspeita, apesar da aberta acusação de condenados na operação através das delações premiadas.
Por outro lado, vemos nosso Congresso ocupado em levantar obstáculos ao impeachment, apresentado nobres tecnicalidades. Os governistas falam em golpe e em terceiro turno, enquanto a oposição, sentindo-se enfarada com o estrépito das ruas, fica se atendo a firulas, como fatos determinados e justificativas jurídicas que, no papel, sempre podem ser superadas pelos argumentos do outro lado. Quando chutaram a bunda do Collor porque confiscou a poupança e ganhou um Fiat Elba, aí o PT não viu qualquer golpe. As elites brancas uniram-se à fina flor das elites marxistas para fabricar o impeachment e essas últimas, depois, tomaram alegremente o poder. Dessa vez, porém, é difícil remover quem se elegeu a qualquer custo, mentindo descaradamente para a população, e só sairá mediante uma virada de mesa que, enfim, ninguém quer (pelo menos os que ainda mantêm alguma responsabilidade).
Para evitar o impeachment, a Presidanta é capaz de qualquer coisa. Ela, que é centralizadora e cruel – a ponto de jogar cabide em camareira – cedeu a economia para um prócer da Escola de Chicago, porta-voz de tudo o que o partido no governo dizia reprovar em matéria de Economia; deu a interlocução no Congresso ao vice-presidente, praticamente confessando não ter mais controle sobre a política, entregue agora aos profissionais do PMDB, que jamais ficaram fora do poder de fato.
Não obstante, as investigações prosperaram, alguns políticos e empreiteiros ricos foram presos e ao sentirem alergia à cadeia, já estão ameaçando dar com a língua nos dentes se forem abandonados. Ocorre que o próprio partido foi esquecido em troca da manutenção do poder pela Presidanta. Ela é bem consciente do preço que tem de pagar para não cair e até o seu antecessor sente no lombo o desprezo presidencial. Sua cria, na verdade, não precisa mais Dele.
Ela sabe, por certificação, que não existe amadurecimento institucional no país para que haja prisão dos verdadeiros chefes do mensalão e do petrolão. Ninguém aqui quer perder o emprego e, por conseguinte, o governo continuará aparelhado (113 mil cargos ocupados pelos amigos da rainha) e os políticos, principalmente os do PMDB, continuarão a desejar a nomeação de seus afilhados e protegidos.
Todo mundo sabe que a Presidanta é culpada nos esquemas nebulosos da Petrobras. Seria inconcebível pensar que uma pessoa prepotente, soberba, centralizadora e realmente cruel como ela não soubesse o que aconteceu em Pasadena, em Abreu Lima e no Comperj. Conluios, subornos, aditivos e superfaturamentos passaram sob seus olhos e ela não viu nada. Mas o que é evidente não deve ser objeto de direito.
Não irei comentar aqui os argumentos jurídicos que possam levar ao impeachment ou impeachwoman. Isso é pura perda de tempo. Coisa para oposição consentida, com punhos de renda. A oposição do PSDB fala inglês, mas é fadada a ser sempre derrotada pelo PT. O impasse do impeachment é verdadeiramente político. O Congresso é controlado pelo PMDB e enquanto a Presidanta consentir em pagar a fatura, o impedimento não acontecerá.
O fato concreto é que o festival de corrupção do partido no governo está evidente, saltando aos olhos de quem quiser ver. O castelo de cartas pode até ruir, mas existem forças ocultas que impedirão que os verdadeiros chefes dos malfeitos sejam apanhados. Ninguém, nenhuma instituição, tem força para remover tal entulho. A não ser o povo na rua, embora o governo tenha força para decretar o carnaval fora de hora...
No frigir dos ovos, sabemos muito bem, na esteira de Celso Daniel e Toninho do PT, o porquê de o juiz Joaquim Barbosa, relator do mensalão, ter pedido aposentadoria precoce, bem como todos temem pela própria vida do juiz Sérgio Moro, que corajosamente anda sem seguranças, e prossegue nas investigações da operação Lava Jato, afrontando com sua honestidade os poderes constituídos.
Sabemos que existem segmentos governistas capazes do jogo mais sujo possível, caso se sintam desesperados. E o desespero significa perder as boquinhas e os cargos nas estatais e fundos de pensão. Desespero será perder as consultorias que tornam milionários capitalistas quem era apenas socialistas de coração.
Assim, por enquanto, o tal impeachment não passa de uma utopia, oferecida para consumo do revoltado homem das ruas. O processo depende somente dos políticos e para eles o buraco é mais embaixo. Desde que a Presidenta pague, tudo permanecerá como está...
QUE PREÇO O PT TERÁ QUE PAGAR PARA SE MANTER NO PODER?
****
Já imaginaram o que o ex-presidente da República e outros petistas estariam falando sobre a triste situação da Petrobrás e o perrengue por que estão passando diversas pessoas caso Dilma Rousseff não tivesse sido reencaminhada à presidência do país?
Será verdade que
CADA UM TEM O QUE MERECE ?
Nenhum comentário :
Postar um comentário