Este espaço é desaconselhável a menores de 21 anos, porque a história de nossos políticos pode causar deficiência moral irreversível.
Este espaço se resume
, principalmente, à vida de quengas disfarçadas de homens públicos; oportunistas que se aproveitam de tudo e roubam sem
punição. Uma gente miúda com pose de autoridade respeitável, que
engana o povo e dele debocha; vende a consciência e o respeito por si próprios em troca de dinheiro sujo. A maioria só não vende o corpo porque este, além de apodrecido, tem mais de trinta anos... não de idade, mas de vida
pública.


OPINIÕES PESSOAIS

segunda-feira, 28 de março de 2016

O TÚMULO DO VOTO OBRIGATÓRIO

Waldo Luís Viana        
 
Acabou mais uma eleição no país e, como as outras, não deixou saudades. Elegeram-se os mesmos e quase os mesmos. “Quanto mais muda, mais é a mesma coisa...” – dizem os franceses. O ditado vale como uma luva para o Brasil. E o que permanece igual? É a nossa escravidão ao voto, que sempre foi dever por aqui, porque não muda nada. Se realmente mudasse, seria um direito. Assim, em terras de vera cruz as coisas mudam para permanecerem iguais...
         Os direitos podem ser reivindicados, mas jamais impostos. Todos os querem. O brasileiro luta sempre por eles e as elites fingem que os concedem, lentamente e na base das migalhas.
         Foi assim com a abolição da escravatura, com leis sucessivas, numa distensão lenta, gradual e segura até o decreto de Isabel, com um artigo só, terminando com a nódoa que as elites teimavam em defender, pretextando que sem os escravos haveria escassez de mão-de-obra e a nação iria falir. Talvez tenhamos sido a última nação do planeta a decidir que os negros tinham alma e direito à cidadania.      
         Acontece o mesmo com o voto obrigatório. As elites argumentam que se ele for abolido, ninguém irá votar. Sabem, por intuição, que o brasileiro tem tal raiva dos políticos e da política que, para aguentá-los, só mesmo sendo tangido ao matadouro...
         No entanto, obrigatório não é o voto; é o comparecimento. O sujeito precisa ir à seção ou justificar a não presença, por vários motivos de força maior. Assim, o brasileiro resolveu protestar, forçando a abstenção, por absenteísmo, a nulidade ou brancura do voto. Afinal, a única forma de se omitir, de mostrar inconformidade com o velho instituto é lavar as mãos, inclusive no pavoroso segundo turno, em que se deve decidir entre candidatos aparentemente menos desprezados (*)  .
         Ocorre que nossas elites inventaram uma máquina de votar, evitada pelos países mais desenvolvidos do mundo, em que só existe a tecla do voto “em branco”, porque essa não prejudica os candidatos. Ela não provoca desarranjos, preservando a legitimidade do pleito, que deve ser apurado em velocidade recorde no planeta, naturalmente para não provocar suspeitas...
         Dessa vez, as eleições foram ainda mais higiênicas, com a lei da ficha limpa finalmente em vigor. As autoridades, no entanto, não contavam com a opinião dos mais pobres, que impelidos a votar a contragosto adoraram votar em gente de reputação não ilibada. Neste país continua vigendo o princípio não escrito: quanto mais ladrão, mais querido! – e ele vale entre os miseráveis desde vereador até presidente.
         Os pobres, sem oportunidades de educação, e estupidificados  pela mídia, acostumaram-se a conviver com as dificuldades próprias de seu nível de renda, convivendo com a corrupção, os bandidos, traficantes, agiotas e milicianos que pululam em seu dia a dia, não se comovendo  com a palavra “ética”, cujo significado positivamente não lhes interessa. Disso resulta uma representação capenga, mas os políticos porventura eleitos nessa camada ainda são melhores do que o estado social dos seus eleitores. O que sobra é sempre a fome, a seca, as enchentes, estradas mal construídas, falta de educação, saúde, moradia e saneamento.
         As classes médias e os ricos, por outro lado, que pensam em moralidade, bem-estar, qualidade de vida e sustentabilidade, elegem também alguns representantes, mas raramente eles vencem em eleições majoritárias. O discurso tecnocrático de eternos candidatos – como aconteceu em São Paulo – não convence mais a ninguém...
         Assim, na prática, tivemos uma abstenção geral de 20% em quase todo país, demonstrando que o povo já se encheu do voto obrigatório. Mas quem decide por ele ainda não. As elites estão esperando o enterro da oligarquia do atraso, por decurso de prazo, para suscitar a “novidade”, adotada sem dor e risco nas melhores democracias do mundo: a não obrigatoriedade do pronunciamento nas eleições...
Chegamos ao paradoxo de sermos uma democracia de massas, com enorme eleitorado, mantendo os votantes em regime de exigente compulsão, como se isso fosse um flagelo. Quanto mais os políticos se distanciam da cidadania, mais é necessário obrigar o povo a votar neles. Ou seja, aqui construímos o maior fosso possível entre a democracia representativa e a participativa.
Afinal, o matrimônio indissolúvel dos mandatos por quatro anos, chancelado pela Justiça Eleitoral, longe de garantir estabilidade à representação, aliena ainda mais os eleitores que nada esperam dos políticos no intervalo entre as eleições. Eles, no fundo, sabem que serão enganados durante todo o mandato, só restando os protestos difusos em filas de banco, hospitais e em alguns programas de rádio.
Ora, é claro que a população vai sumir dos pleitos nas primeiras eleições sem o voto obrigatório. Naturalmente provará do porre da liberdade e não irá se pronunciar. Esse é o desejo, sem dúvida, da maioria espoliada e revoltada! Algumas eleições depois, porém, o contingente voltará a comparecer, mas nesse ínterim os partidos e candidatos serão outros, muito melhor escolhidos e selecionados. Isso é cristalino como boa água mineral...
Se, contudo, as coisas permanecerem como estão, continuaremos a ver os partidos se replicando como balcões de negócio, como traficantes de minutos no horário gratuito e valhacoutos infectos de registro de candidaturas e manipulação de caixa 2 (dinheiro não contabilizado), 3 (dinheiro no exterior) e fundos partidários. Ou vocês não perceberam certos personagens, aparecendo em toda eleição sempre para perder, e que inacreditavelmente se tornam mais ricos?
O voto obrigatório traz a escória eleitoral para os pleitos. Os pobres nada esperam deles, porque sabem que serão esquecidos depois, atrás dos cordões de isolamento. E os ricos continuarão explorando os políticos para as suas jogadas de superfaturamento e privatização do Estado brasileiro em tenebrosas transações – que ninguém é de ferro!
Na verdade, o mais paradoxal é que o voto obrigatório serve ao pior conservadorismo dos partidos dominantes e que exploram os grotões, que nada têm e nada podem sem o auxílio e a caixa do governo. Em torno dele se coligam os que se dizem progressistas e as piores oligarquias do atraso. E eles sempre dividem o butim tranquilos, sabendo que o tempo passa e o povo continuará, como sempre, anestesiado e desmemoriado.
No Brasil acontece uma coisa muito engraçada: o povo é otimista, mas o futuro é pessimista...
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*Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta e como todo brasileiro idiota comparece sempre à sua seção eleitoral...
 
(*)  Podemos nem comparecer às urnas e apenas pagar uma multa ainda barata, por não ser paga pela maioria das pessoas que acreditam  que o voto é uma OBRIGAÇÃO.
 
Afinal,
O VOTO É UM DIREITO OU UMA OBRIGAÇÃO?
 
 
 
 
 

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