Saída pela esquerda
Cid BenjaminO Globo
O quadro político passou por grandes transformações nos últimos seis meses. Para pior. O governo Dilma envelheceu precocemente. Ao descumprir as promessas de campanha, não encontra respaldo unânime sequer em seu partido, o PT. Neste, por sua vez, se acelera um processo de desagregação política e ideológica. E o fracasso do governo, assim como os casos de corrupção, desgasta não apenas o PT, mas toda a esquerda.
A sociedade assiste a uma onda de conservadorismo sem precedentes desde a ditadura militar, capitaneada não mais pela direita clássica — seja a mais arcaica, como DEM ou PP; seja a mais moderna, como PSDB e PPS. O PMDB, a partir da ascensão de Eduardo Cunha à presidência da Câmara, mudou o comportamento e assumiu a hegemonia da direita. Já não se limita a oferecer “governabilidade” ao governo em exercício, em troca de espaços em busca de negócios no aparelho de Estado. Agora tem também papel de protagonista e encampa propostas mais conservadoras do que as dos próprios tucanos. E Cunha, que controla mais de cem deputados, encabeça a onda de reacionarismo. Sua bancada é maior do que a de qualquer partido individualmente.
Os setores mais consequentes da esquerda se veem numa situação difícil. Dilma nunca os representou. Agora que terceirizou o governo, entregando a política econômica aos tucanos, por meio de Joaquim Levy, e a articulação política ao peemedebista Michel Temer, representa menos ainda.
Mas as alternativas imediatas são piores: PSDB ou PMDB. É preciso fugir dessa sinuca de bico e construir uma saída de esquerda para a crise. Os pontos programáticos para ela não são novidade.
Na economia, é preciso substituir as medidas que trazem mais sacrifícios aos trabalhadores por outras, que apresentem a conta da crise aos ricos: a queda da taxa de juros; a cobrança do imposto sobre grandes fortunas; o aumento da taxação de grandes heranças; mudanças na área tributária para que, por exemplo, assalariados que ganham R$ 4.700 por mês não acabem pagando um percentual maior do que os bancos; o fim da isenção de impostos sobre a distribuição de lucros e dividendos, que representa a maior parte da remuneração dos grandes executivos etc.
Na política, no momento é preciso concentrar esforços na proibição de que empresas financiem candidatos e partidos, que é fonte de corrupção e os deixa, depois, a seu serviço. O PT não é capaz de liderar o movimento por essa saída progressista. Outras siglas de esquerda tampouco. Não têm musculatura para tal.
Por isso, é urgente a conformação de uma ampla frente que incorpore partidos, segmentos de partidos, entidades democráticas e populares e personalidades, mas que, sobretudo, se abra para a sociedade e para aqueles setores e cidadãos interessados em mudar o quadro político.
Disso depende a possibilidade de uma saída progressista para a atual crise. Sem ela, o reacionarismo que vivemos continuará a crescer. O resultado será mais retrocesso e mais sacrifícios para os trabalhadores.
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