João Cesar de Melo,
publicado no Instituto Liberal
O povão não lê a Folha de São
Paulo, nem o Estadão, nem o Globo porque cada exemplar custa o preço de uma
passagem de ônibus (Se é o patrão quem paga as passagens, seria outro o motivo por não comprarem jornais mais decentes, como a falta de responsabilidade, o desprazer em ler mal e porcamente) . Se não tem dinheiro para jornal, obviamente não tem dinheiro
para assinar a Veja (*) , ou a Época, ou a Isto É, ou a Piauí. O povão não lê os
tantos blogs sobre política e economia que excitam a classe média porque não
têm tempo para isso (o povão pode não ter tempo para ler o que é mais necessário, mas tem tempo para colocar fotos e fatos individuais nas Redes Sociais, por exemplo). Não acompanha a Globo News ou a Band News porque trabalha
o dia todo. Não assiste o Willian Waack no Jornal da Globo porque o programa
vai ao ar tarde demais. O povão tira suas conclusões a partir do que assiste no
Jornal Nacional. O Jornal Nacional é a principal fonte de informação da maioria
dos brasileiros. O povo elege quem está aí emporcalhando nossa política porque é bem mais cômodo votar em que vai até suas ruas lhes oferecer qualquer coisa em troca de voto.
Por muito tempo, não me deixei
contaminar pelo frenesi anti-Globo porque sempre respeitei que os meios de
comunicação privados tivessem seus posicionamentos em relação aos mais diversos
temas. Não me deixava contaminar pelo frenesi anti-Globo porque, mesmo
discordando da maioria de suas inclinações, eu reconhecia que a emissora
prestava algum serviço público em suas novelas ao abordar temas como
transplante de órgãos, câncer de mama, síndrome de down, autismo, racismo,
homofobia, religião etc. A verdade é que a Globo contribuiu mais para algumas
causas do que todas as iniciativas do governo até hoje. Porém, por trás dessa
verdade existe outra verdade. Uma verdade dolorosa. Uma verdade vergonhosa. Uma
verdade que vem se transformando num imenso absurdo através do Jornal Nacional. Também não me deixei contaminar contra o piripáqui que acometeu várias pessoas contra a 'adaptação' da revista Veja e, para tirar minhas próprias conclusões, me obriguei a engolir a tal revista durante um mês inteiro (ou quatro revistas, se preferirem) , decidindo não a ler mais .
Estamos num dos momentos mais
delicados da história do Brasil. Excluo, só por um momento, a degradação da
política brasileira. Refiro-me, nesse texto, apenas ao eminente colapso
econômico. Uma situação que interfere diretamente na vida de todo cidadão,
principalmente na vida dos mais pobres. Pessoas comuns estão perdendo empregos.
Pessoas comuns estão perdendo clientes. Pessoas comuns estão perdendo suas
únicas fontes de renda. Os salários de pessoas comuns estão sendo corroídos por
uma inflação que sabemos que é muito maior do que o anunciado.
Até uma semana atrás, o Jornal
Nacional noticiava tudo isso. Noticiava a duplicação do índice de desemprego e
da inflação em um ano. Noticiava que o Brasil perdeu 3% de seu PIB no mesmo
período. Noticiava o resultado das pesquisas que indicam o pessimismo do
comércio, da indústria, do mercado financeiro e até da dona de casa. Até uma
semana atrás, o Jornal Nacional noticiava o desmoronamento da economia
brasileira. Parou de noticiar desde quando foi aceito o processo de impeachment
contra Dilma.
Desde então, o Jornal Nacional
atua como advogado de defesa do atual governo. Reproduz os discursos de Dilma
até três vezes num mesmo noticiário. Destaca os aplausos dos militantes
petistas, as desculpas esfarrapadas de seus líderes e as falas ultrajantes de
L--- . Ontem a noite, o telejornal noticiou que uma manifestação da CUT em favor
de Dilma, no Rio de Janeiro, contou com 10 mil pessoas, sendo que as imagens
aéreas mostravam que não havia nem um décimo desse número.
As poucas entrevistas com pessoas
que pedem o afastamento de Dilma foram editadas com o cuidado necessário para
que nenhum argumento fosse exposto de tal forma que um telespectador mais
humilde pudesse compreendê-lo. Não foi feita uma única entrevista com os
Juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Junior e Janaína Paschoal, autores do
pedido de impeachment. O Jornal Nacional não mede esforços para fazer o povão
acreditar que o processo de impeachment é obra de Eduardo Cunha, cria situações
para mostrar os membros do governo dizendo que tudo não passa de um golpe do
PSDB, “inconformado com o resultado das urnas”, oferece todo o espaço
necessário para o governo dizer que Dilma resolverá a crise que ela mesma
criou. Não acredito que a atual PresidentA tenha usado sua incompetência para fazer mágica. O Brasil se desnudou graças à sua incapacidade de segurar politicamente suas mentiras, como fez seu antecessor. O estrago vem desde o governo de seu criador, embora ela tenha ajudado - e muito! - a desmantelar o que já estava escangalhado.
Desde que o pedido de afastamento
de Dilma foi aceito, o maior telejornal brasileiro não se deu trabalho de
explicar a relação entre a irresponsabilidade fiscal dos últimos anos com a
atual crise econômica. Se o Jornal Nacional tivesse um mínimo de honestidade
jornalística, repetiria todos os dias o seguinte: O desrespeito da Lei de
Responsabilidade Fiscal pode levar o governo a ficar sem dinheiro para pagar os
salários de servidores e pensionistas. Não diz isso porque sabe que, dessa
forma, o povão entenderia perfeitamente os crimes que recaem sobre Dilma.
O Jornal Nacional não se importa
que um possível arquivamento do pedido de impeachment significaria um duro
golpe na moral dos brasileiros – o povo que grita “Fora Dilma” sendo obrigado a
ver o desejo dos partidos da extrema-esquerda brasileira prevalecer.
Então, eu me lembro de que, dois
dias atrás, num mesmo bloco foi noticiada a “vitória da oposição” na Venezuela
e a vitória da “extrema-direita” na França, com direito a carinha de nojo do
Willian Bonner. Isso é a Globo. Isso é o Jornal Nacional. Sempre dando
conotação pejorativa a tudo o que não é esquerda. Evitando ao máximo relacionar
o chavismo com extrema-esquerda. Esforçando-se ao máximo em impedir que as
pessoas correlacionem o colapso econômico na Venezuela com as ideias
socialistas. Fazendo o diabo para que o telespectador não se dê conta de que o
PT é um partido de extrema-esquerda e que desde que assumiu o poder tenta impor
sua própria revolução bolivariana.
A verdade: A Rede Globo se tornou
o maior veículo de publicidade do socialismo.
Continuo defendendo que todas as
empresas privadas de comunicação tenham liberdade para tomar partido sobre
qualquer assunto, mas espero que os brasileiros um dia enxerguem a cumplicidade
do Jornal Nacional no verdadeiro golpe que está em curso, o golpe do PT contra
o Brasil.
A Rede Globo, através do Jornal
Nacional, está ajudando o PT a rasgar a Constituição do Brasil. Está tentando
tirar de 200 milhões de cidadãos o direito de punir um partido que vem a 13
anos dilapidando a economia do país.
O povo saberá votar quando seu seu emprego acabar, seu estômago estiver vazio e de seus descendentes também. Aí, sim, o povo saberá que seu voto vale bem mais que uma simples dentadura.
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