Filho de vítima da luta armada cobra investigações sobre o caso
O guarda civil Cardênio Jayme Dolce, já aposentado, chefiava a segurança da Casa de Saúde Doutor Eiras, em Botafogo, quando o hospital foi invadido por um grupo armado. Aquele 2 de setembro de 1971 entraria para a história como um dos dias mais sangrentos da luta armada no Brasil. Um grupo da Aliança Libertadora Nacional (ALN), uma das mais estruturadas organizações da guerrilha urbana, pretendia assaltar o carro-forte que trazia o pagamento dos funcionários, mas os guardas liderados por Jayme reagiram e houve intenso tiroteio. No final, três guardas, entre os quais o chefe da segurança, estavam mortos.
Um dia depois da divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), o nome de Jayme apareceu ontem em anúncio publicado em jornais, pelos clubes Naval, Militar e de Aeronáutica, em memória de 126 “brasileiros que perderam suas vidas pelo irracionalismo do terror”. As três entidades acusam a CNV de desprezar as histórias dessas vítimas da violência da guerrilha urbana, “um desrespeito as suas memórias e aos seus familiares”, e pediram uma prece por suas almas.
O comerciante Jayme Dolce, filho do guarda civil, garante que o pai não tinha qualquer atuação política quando foi baleado no assalto a Doutor Eiras. Ele disse que, com o assassinato, a mãe, aos 36 anos, teve de assumir sozinha o desafio de criar quatro filhos sem ter recebido qualquer indenização pela morte, apenas os direitos trabalhistas. Também morreram na ação da ALN os seguranças Dermeval Ferreira dos Santos, que deixou 10 filhos, e Sílvio Amâncio dos Santos, com sete filhos.
O comerciante só começou a batalhar pela memória do pai em 2006, com a publicação de detalhes do assalto no site “A Verdade Sufocada”:
— Procurei a Comissão Nacional da Verdade. Eles me falaram que a comissão não iria investigar os crime praticados por terroristas. Alegaram que eles já foram processados e condenados. Eu sei quem são os assassinos do meu pai. Foram 11 terroristas, dois deles estão vivos. Um deles, inclusive, trabalha na Câmara Federal. Nada aconteceu com eles.
A família do guarda civil, 43 anos depois do episódio, ainda não desistiu de buscar uma reparação. Jayme, que mora em Minas, quer conhecer a experiência do Centro de Estudos Legais sobre o Terrorismo e suas Vítimas (Celtyv), ONG criada em 2006, na Argentina, para cobrar o julgamento e indenizações pelos crimes da luta armada, comparando-os a ações terroristas na Espanha, cometidas pelo ETA basco, ou na Colômbia, pelas Farc. Estimativas dão conta de que tais ações teriam causado a morte de cerca de 1.300 pessoas em diferentes províncias daquele país.
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