Este espaço é desaconselhável a menores de 21 anos, porque a história de nossos políticos pode causar deficiência moral irreversível.
Este espaço se resume
, principalmente, à vida de quengas disfarçadas de homens públicos; oportunistas que se aproveitam de tudo e roubam sem
punição. Uma gente miúda com pose de autoridade respeitável, que
engana o povo e dele debocha; vende a consciência e o respeito por si próprios em troca de dinheiro sujo. A maioria só não vende o corpo porque este, além de apodrecido, tem mais de trinta anos... não de idade, mas de vida
pública.


OPINIÕES PESSOAIS

sábado, 11 de julho de 2015

Rio ou Choro de Janeiro II


http://oglobo.globo.com/sociedade/historia/mostra-aborda-transformacao-na-rotina-depois-do-rio-virar-sede-da-colonia-16733102

 
Quem passeava pelo Rio de Janeiro do fim do século XVIII poderia ver o Largo do Paço, a atual Praça XV, tomada por multidões de escravos de diversas partes da África, passageiros recém-chegados e estrangeiros de várias origens. Na costa, fortes eram reformados e ganhavam altura; no Centro, milionários despejavam suas economias adornando igrejas. “Forasteiros” do interior da Colônia viam móveis usados vendidos em praça pública. Dentro de sobrados, jovens que tinham estudado em universidades europeias discutiam obras literárias. Outros observavam as mulatas passando pela rua, enquanto meninas recatadas se recolhiam no convento de Santa Teresa. A partir de 1763, quando foi alçada à posição de capital da Colônia, a cidade viu paisagem e — principalmente — população transformadas. Pouco lembrava a capitania fundada quase 200 anos antes por Estácio de Sá.
 
O Rio conquistou o novo status graças ao porto fortemente vigiado e de localização estratégica para o comércio europeu. Era a maior porta de entrada de mercadorias e a de saída do ouro extraído nas Minas Gerais. Assim, a cidade consolidava a posição de centro político e econômico da Colônia. Já contava com seu próprio bispado e um Tribunal da Relação. Era, por isso, o endereço dos principais desembargadores e religiosos do Brasil. A multiplicação das repartições públicas criou a classe média.
 
— Houve uma transformação intensa no fim do século XVIII. Foi a refundação do Rio — define Paulo Herkenhoff, diretor cultural do Museu de Arte do Rio, que recebe este mês a exposição “Rio Setecentista: quando o Rio virou capital”. — Em 60 anos, a cidade, que era uma capitania inapropriada para ser capital europeia, virou um local que poderia sustentar uma Corte do Velho Continente, como ocorreu em 1808, quando Dom João VI veio para cá. 
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 A população africana foi aquela que mais contribuiu para alimentar o perfil da cultura carioca do novo Rio. Responsável por pavimentar as estradas que ligavam as minas à nova capital, sua entrada no país quase triplicou em 40 anos. Entre 1700 e 1710, chegaram 28 mil africanos. Na década de 1730, vieram 66 mil.

— Eles eram a classe baixa, aquela que sustentava a economia — conta o arquiteto e historiador Nireu Cavalcanti, autor de livros como “O Rio de Janeiro Setecentista. A vida e a construção da cidade da invasão francesa até a chegada da Corte”. — A ideologia da exploração era tão grande que, quando liberto, a primeira medida tomada pelo africano era comprar seus próprios escravos.
 
A classe média, uma novidade do século XVIII, era composta por tropas militares, funcionários públicos, médicos, cirurgiões, professores particulares e arquitetos, entre outros profissionais. No início, este estrato da sociedade foi praticamente monopolizado pelos portugueses. Algumas gerações depois, os brasileiros dominaram essas ocupações.

— As regras internacionais asseguravam o direito a navios de qualquer país aportar no lugar mais próximo para solucionar problemas como doenças ou falta de alimentos. As autoridades davam passaportes estabelecendo em que áreas os recém-chegados poderiam circular. O Rio tornava-se cosmopolita — lembra Nireu.

Os europeus e os escravos, provenientes de diversos países africanos — portanto, de diferentes culturas e costumes — multiplicaram a população e o perfil étnico da cidade.

 
 
VIDA NA IGREJA
 
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da UFRJ, Margareth da Silva Pereira destaca que o Rio recém-nomeado capital tornava-se uma sociedade “cada vez mais complexa”, em que a população buscava o que consumir e como se integrar.
 
O carioca se esforçava para definir uma vida social. Ela era estruturada no hábito de ir à missa e participar de procissões. Era muito difícil alguém morar no Rio sem pertencer a irmandades ou contribuir com ordens religiosas — explica.
 
Diversos episódios mostram como o cotidiano da cidade girava ao redor das igrejas. Como havia uma lei proibindo que a elite gastasse grandes quantias enfeitando suas mansões — uma tentação da época, por exemplo, era revestir as paredes com fio de ouro —, os milionários descarregavam seus caprichos transformando as catedrais em prédios luxuosos.
 
Um número surpreendente de mulheres aderiu aos conventos da Ajuda e de Santa Teresa, os únicos disponíveis para elas. O governo então preocupou-se com tantas damas vestindo o hábito. O número de mulheres brancas não era bastante para a demanda masculina, e os rapazes começaram a apelar para as mulatas, aumentando a miscigenação da classe média. Outra solução era recorrer às viúvas — era raro que ficassem de luto por muito tempo.
 
Em todas as classes sociais, as comunidades eram formadas dentro de irmandades religiosas. O nível de devoção era ostentado em pequenos carnavais.
 
— As irmandades disputavam quem fazia a cerimônia mais pomposa, com os melhores trajes e o maior número de pessoas desfilando pela cidade — assinala Nireu. — A disputa só foi hostil entre negros, quando o maior grupo tentou incorporar todos os outros.
 
Na segunda metade do século XVIII, a expulsão dos jesuítas da Colônia, imposta pelo Império português, levou os livros das inacessíveis bibliotecas para as mãos da elite intelectual, composta em boa parte por jovens formados na Europa, já que no Brasil estava proibida a existência de universidades. As primeiras academias, dos Felizes e dos Seletos, deram lugar a outras maiores na capital, como a Sociedade Literária do Rio de Janeiro — que só foi extinta em 1794, quando as autoridades julgaram que aqueles debates colocariam em risco a soberania de Portugal sobre os trópicos.
 
O Rio não poderia ter seus ídolos. A Coroa não permitia que funcionários tivessem representações, como estátuas e quadros, em repartições e locais públicos.
 
— Eram leis para evitar o personalismo — revela Nireu. — Temia-se que estas figuras, de alguma forma, incentivassem a libertação da Colônia. Como resultado, algumas praças eram verdadeiros desertos. O único objeto que expressaria a arte era um chafariz.
 
 
SILÊNCIO E PERSEGUIÇÃO
 
De acordo com Margareth, a construção frenética da nova sociedade carioca foi manchada por demonstrações de desigualdade e intolerância. As mais óbvias eram contra os africanos, uma imensa camada da população a que se negava a cidadania. Mas nem os ricos escapavam da possibilidade de delações, que poderiam levá-los à ruína.
 
Entre 1703 e 1730, houve mais de 270 detenções e apreensões de bens. O denuncismo erradicou famílias seculares e impôs um clima de silêncio. Algumas pessoas foram queimadas vivas na Europa.
 
O Rio capital diversificou sua população, trouxe oportunidades e viu a economia prosperar. Mas nem todos tinham vez.
Os cargos públicos eram negados a quem não atestava “limpeza de sangue”, como descendentes de judeus, mouros, africanos e ciganos — pondera. — Com a abertura do caminho para as minas, os engenhos da população de origem judaica atraíram a cobiça e muitos dos seus proprietários foram denunciados, presos e, além de verem seus bens confiscados e vendidos, foram enviados para interrogatório e julgamento no Tribunal na Inquisição, em Lisboa.
 
Entre 1703 e 1730, houve mais de 270 detenções e apreensões de bens. O denuncismo erradicou famílias seculares e impôs um clima de silêncio. Algumas pessoas foram queimadas vivas na Europa.
 
O Rio capital diversificou sua população, trouxe oportunidades e viu a economia prosperar. Mas nem todos tinham vez.  
 
 
Em 21 de abril de 1960 o Rio de Janeiro deixou de ser a capital do Brasil.
 





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