Eike Batista está pronto para delatar L---. Mas Antonio Palocci deverá fazê-lo antes. Na semana passada foi Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, que delatou o ex-presidente. Nas anteriores, Léo Pinheiro, sócio da OAS, e João Santana, o marqueteiro da campanha de Lula à reeleição em 2006 e das campanhas de Dilma em 2010 e 2014.
Dá para acreditar que todas essas pessoas, estreitamente ligadas a L---, amigas dele de muito tempo ou parceiras, tenham decidido entregá-lo como único meio possível de escapar dos rigores da Lava Jato?
Sem falar de tantas outras que também o apontaram como o poderoso chefão da organização criminosa que tentou se apoderar do aparelho do Estado via mensalão e, depois, via o assalto à Petrobras.
L--- era o chefe, contou o ex-senador Delcídio do Amaral (PT-MS), que a pedido dele tentou subornar Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, para que não delatasse.
L--- era o chefe, e Palocci o administrador de suas propinas, disseram Emílio e Marcelo Odebrecht.
Sem a participação direta de L---, nada do que hoje se conhece poderia ter acontecido, escreveu Rodrigo Janot, Procurador-Geral da República.
Como teria sido possível a toda essa gente presa em Curitiba, em casa ou ainda solta, combinar relatos que se encaixam quase à perfeição e forjar provas sabendo que a mentira lhe custará mais dolorosos anos de cadeia?
L--- já virou réu em cinco ações penais, acusado de crimes de corrupção (17 vezes), lavagem de dinheiro (211 vezes), tráfico de influência (quatro vezes) e obstrução da Justiça (uma vez).
Seria absurdo imaginar que todas as acusações restarão provadas. Mas igualmente absurdo seria imaginar o contrário – que todas ruirão.
Basta que uma, apenas uma, se sustente para que L--- seja condenado em breve pelo juiz Sérgio Moro e, mais adiante acabe preso e impedido de disputar as eleições do próximo ano por decisão da segunda instância da Justiça.
Sim, sempre haverá o Supremo Tribunal Federal...
Quem está em julgamento não é o retirante da seca nordestina, filho de mãe analfabeta, que sobreviveu à miséria, perdeu um dedo no torno mecânico, comandou greves no interior paulista, fundou o Partido dos Trabalhadores e se elegeu presidente da República, o primeiro de origem operária da história do Brasil. Muito menos o pai dos pobres e mãe dos ricos que deixou a presidência com quase 90% de aprovação.
Em julgamento está aquele que cooptou e foi cooptado pelas elites criminosas, chegou ao poder como a alma mais honesta do país, e uma vez lá, valeu-se de recursos ilícitos para governar e enriquecer.
Com uma diferença crucial em relação aos que o antecederam: promoveu a corrupção à categoria de política de Estado. Distribuiu migalhas aos pobres. Atentou gravemente contra a democracia.
Por toda parte, a democracia sempre foi e sempre será uma obra inacabada. Aqui, ela mal nasceu ou renasceu mal.
Que democracia é esta em que políticos corrompem e se deixam corromper, em que se compra com dinheiro vivo o apoio de partidos, em que se desvia dinheiro público em prejuízo de melhores condições de vida para os mais pobres, e em que uma Justiça de classes serve de preferência aos que podem mais? Ai das togas!
Assim como Dilma foi julgada no processo do impeachment pelo conjunto de sua obra e não só pelas pedaladas fiscais que cometeu, também Lula o será.
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