Se Brasília está sendo confundida com as trapaças existentes,
que reclamem com quem a estigmatizou
e não com as pessoas (eu, inclusive) que, erradamente,
confundem o que seria a Capital do nosso país com a capital da safadeza política.
RECLAMEM COM QUEM DE DIREITO.
Brasília, a Geni do
Brasil
Cidade é
completamente independente de senadores, deputados, presidentes, ministros e juízes de tribunais superiores, que vivem
fechados em seus ‘planetas’
Luiz Antonio Mello
- 16/01/2017 0:00
Luiz Antonio Mello é jornalista
A população de Brasília está indignada. (*) Em grandes centros como o Rio e
São Paulo muito se ouve pelas ruas disparos pejorativos como “essa gente de
Brasília”, ou “está pensando que isso aqui é Brasília?”. No imaginário (e
ignorância) de muita gente, o brasiliense é um janota que desfila de braços
dados com corruptos e outros nefastos que frequentam o noticiário
político-policial.
A intolerância trata os brasilienses ou os candangos (quem lá nasceu)
como uma nova “Geni” nacional, numa referência a “Geni e o Zepelim”, clássico
de Chico Buarque dos anos 70, que no refrão canta “Joga pedra na Geni!/Joga
bosta na Geni!/Ela é feita pra apanhar!/Ela é boa de cuspir!/Ela dá pra
qualquer um!/Maldita Geni!”.
CONFUNDEM a Praça dos Três Poderes — onde estão o Executivo, o
Legislativo e o Supremo Tribunal Federal — com a população de três milhões de
habitantes do Distrito Federal, onde Brasília é apenas uma pequena fatia.
A cidade é completamente independente dos senadores, deputados,
presidentes da República, ministros e juízes de tribunais superiores, que vivem
fechados em seus “planetas”, numa espécie de síndrome de Guilherme Arantes, na
base do “meu mundo e nada mais”.
“Ninguém vê essa gente em cinemas, teatros, restaurantes, no comércio,
nos shoppings, até porque seriam hostilizados”, comenta o jornalista e
pesquisador carioca Cezar Mota, que vive em Brasília há mais de 30 anos. “Até
amigos me acusam de viver em ‘uma ilha da fantasia’, distante da realidade
brasileira. Ora, nada mais identificado com a realidade brasileira do que a
Capital Federal, que tem metade de sua população oriunda de todo o país,
principalmente nordestinos e nortistas. Ilha da fantasia é a Zona Sul do Rio de
Janeiro, que tem olhos apenas para o próprio umbigo, considera-se o centro do
país, despreza a Zona Norte e até mesmo São Paulo. Que dirá Norte e Nordeste.”
Apaixonado pela cidade e indignado com esse “linchamento”, Cezar Motta
lembra que o Distrito Federal detém o maior índice de homicídios do Brasil por
cada grupo de cem habitantes (mais do que o Rio de Janeiro e São Paulo). “O
Distrito Federal tem 31 regiões administrativas. Brasília é apenas uma delas”,
observa. De acordo com o portal Congresso em Foco, o D.F. tem quase o dobro de
homicídios de São Paulo nas suas 31 regiões administrativas. Em média, foram
quase duas execuções por dia. Isso representa 20 assassinatos por grupo de cem
mil habitantes/ano. Este índice é quase o dobro de São Paulo, que registra 11
homicídios, latrocínios e lesões fatais por grupo de cem mil por ano.
Em 1990, conversei com Oscar Niemeyer sobre Brasília. Ele desabafou:
“Misturam Distrito Federal com Brasília; deformaram tudo. O que era um belo
projeto para igualar as pessoas, hoje me causa repulsa”.
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