O que Lula não tem
Ricardo Noblat
Viver é muito perigoso. Mas viver no limite da irresponsabilidade é muito mais. Há quem goste. Soa como um desafio.
Exemplo: quanto não deve excitar L... a proximidade da sombra da Lava Jato?
As informações reunidas pelo juiz Sérgio Moro comprometem L--- com o que começou de fato a acontecer durante o seu segundo governo. Era preciso pagar dívidas da campanha de 2006. A saída? Roubar a Petrobras.
Sobreviveu à seca no Nordeste, à miséria em São Paulo, aos riscos da vida sindical na ditadura de 64, e a três derrotas seguidas para presidente.
O candidato antes favorável à limitação do direito de propriedade privada, ao aborto e à estatização dos bancos, virou o Lulinha Paz e Amor e, afinal, elegeu-se.
Um dos segredos do seu sucesso: a falta de princípios. Poderia repetir a sério o que o comediante norte-americano Groucho Marx afirmou fazendo graça: “Esses são meus princípios. Mas se você não gosta deles, tenho outros”.
L--- por ele: “Sou uma metamorfose ambulante”. L--- por Hélio Bicudo, fundador do PT: “Ele só está em busca de vantagem para ele e para sua família”.
Na semana passada, L--- reuniu-se com Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados. Pediu-lhe que segurasse qualquer pedido de impeachment contra Dilma.
Indecorosa atitude! Um pedido de impeachment que respeite os preceitos legais deve ser mandado adiante. O presidente da Câmara exorbitaria dos seus poderes se o retivesse.
Se sabe disso, L--- não se importa. No seu primeiro governo, telefonou para José Viegas, Ministro da Defesa, intercedendo pelo advogado Roberto Teixeira. Havia morado de graça em um apartamento dele em São Bernardo.
Pediu a Viegas para facilitar a vida de Teixeira, interessado nos espaços ocupados pela massa falida da Transbrasil em aeroportos país a fora. Um ótimo negócio.
A Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT condenado no caso do mensalão, L--- pedia para esconder acesa a cigarrilha que fumava quando era alvo de fotógrafos.
Ao senador que o procurou em 2006 dizendo que Marcos Valério, operador do mensalão, queria dinheiro para ficar calado, L--- limitou-se a perguntar: “Você procurou Okamotto?” Paulo Okamotto, hoje, preside o Instituto Lula.
Valério jamais abriu a boca. Quando tentou era tarde. Pegou 40 anos de cadeia.
L--- escapou depois de se dizer traído pelos mensaleiros e entregar a cabeça de José Dirceu.
Nega-se a admitir que o mensalão existiu. Mas pediu o voto de quatro ministros do Supremo Tribunal Federal em favor dos mensaleiros. Um dos ministros: Gilmar Mendes.
O mesmo que assistiu, certa vez, a uma cena inesquecível. Estava na antessala do gabinete de L---, no Palácio do Planalto, quando o viu sair acompanhado de José Sérgio Gabrielli, então presidente da Petrobras.
“Veja só, Gilmar. Um Procurador da Fazenda, no Rio, está chantageando a Petrobras”, narrou L---. “Eu falei pro Gabrielli: Por que você não manda grampear ele?” Grampo é crime.
L--- não vê nada de mais em ter informado ao Exército, ao completar 18 anos, que media dois centímetros a mais do que media. Não se conforma em ter menos de um metro e setenta.
Nem vê nada demais no fato do seu filho mais velho ter enriquecido enquanto ele presidia o país.
L--- considera natural ter enriquecido prestando serviços a empresários, e de nessa condição aspirar a um novo mandato de presidente.
Ilegal não seria. Seria simplesmente imoral.
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